Nem 8 nem 80 nas críticas a Portugal

08:49


Sentado na cabine de um velho comboio, ainda penso no triste fado que acompanhou Portugal, ontem, diante da Áustria. Foram 23 remates, dois deles ao poste, uma grande penalidade desperdiçada e um par de defesas fantásticas de Almer, um perigo com os pés mas elástico e eficiente entre os postes.

Pelo segundo jogo consecutivo, Portugal goleou na estatística. Teve mais bola, mais ataques, mais remates e, por conseguinte, mais ocasiões, mas não que teria forçosamente que ser assim? A seleção portuguesa é, seguramente, mais forte que Islândia e Áustria, jogou mais do que elas, mas isso não foi suficiente para vencer.

O que faltou? Sobretudo pontaria. É impensável no futebol moderno fazer-se mais de 40 remates em dois jogos e apenas marcar um golo. O espelho da desinspiração lusa é, naturalmente, Ronaldo. O capitão nem de penálti acertou com as redes contrárias, e isso é motivo de alarme.

Por outro lado, não é necessário perder-se a cabeça. As críticas à seleção têm inundado a opinião pública e as redes sociais, e a maioria delas têm razão de ser. 

Fernando Santos mexeu bem antes do jogo, com as entradas de Quaresma e, sobretudo, de William Carvalho, mas teve uma leitura errada durante o encontro. Demorou a mexer quando sobretudo a zona intermediária suplicava por novas ideias. Lançar Éder logo após o penálti falhado por Ronaldo demonstrou desespero, e a entrada de Rafa não fez qualquer sentido, ainda que o atacante bracarense até nem tenha estado mal nos poucos minutos que esteve em campo.

Estas são as críticas aceitáveis a uma seleção que, ainda assim, está longe de estar afastada do Europeu, e que até nem é das piores no futebol praticado. Por isso, vaticinar um adeus prematuro à prova é manifestamente exagerado, ainda para mais quando se sabe que uma vitória diante da Hungria é suficiente para avançar na competição.

Mas mais exageradas são as críticas de alguns às manifestações de desagrado dos adeptos menos satisfeitos com a campanha lusa em França. Mesmo que tenha rematado mais e jogado melhor do que Islândia e Áustria, a verdade é que, ao fim de duas jornadas, Portugal soma apenas dois pontos, num grupo acessível e no qual seria obrigado, pelo estatuto e pelos jogadores que possui, a ser dominador também na classificação. Negá-lo é minimizar o potencial da seleção e tentar afastar as atenções dos problemas que a seleção forçosamente terá que superar para manter as aspirações intactas neste Euro.

Dizer-se que os que hoje criticam amanhã festejam, vale o que vale. Não foi sempre assim no futebol? Em Portugal e em qualquer parte do mundo? O próprio Ronaldo admitiu, ontem, que podia ter feito melhor, e Nani disse que chegou a hora de se parar com as desculpas. A união faz a força em todas as ocasiões, mas é da discussão aberta e franca dos problemas que saem soluções importantes. Limitar o debate nunca será boa ideia, ainda para mais no futebol, onde todos têm uma opinião e, também, um pouco de razão.

Fotografia: Direitos Reservados

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